Alocação de Ativos: Por Que Ela É Essencial?

Introdução Contextual

Os investidores frequentemente perdem tempo e energia excessivos tentando identificar o próximo “investimento da moda” ou o momento ideal para entrar e sair do mercado. A experiência prática, porém, demonstra que essas atividades contribuem minimamente para o sucesso financeiro de longo prazo.

Na verdade, a decisão verdadeiramente determinante para seus resultados é muito mais fundamental: como você distribui seu capital entre diferentes classes de investimentos. Esta é a essência da alocação de ativos.

Em nossa experiência profissional,  observamos um padrão muito preocupante nas tomadas de decisões de investimentos. Durante períodos de euforia no mercado, como ocorreu no Brasil no período de 2016 a 2020, ou então, recentemente nos EUA com recordes históricos nas bolsas, no qual investidores individuais estão assumindo riscos excessivos influenciados pelo alto retorno de curto prazo, desconsiderando princípios básicos de diversificação.

Quando o inevitável movimento contrário ocorre, muitos entram em pânico e liquidam posições em momentos inadequados.

Ou seja, entram no ciclo vicioso de “Comprando na alta e vendendo na baixa”.

Esse padrão de comportamento são manifestações da psicologia do investidor que não possui uma estratégia estruturada de alocação de ativos.

Neste texto, vamos examinar o “por que” a alocação de recurso é, na verdade, o pilar central de uma estratégia de investimentos bem-sucedida no longo prazo.

O que é alocação de ativos e como funciona

A alocação de ativos, em termo prático, é como um investidor distribui seu capital entre diferentes classes de investimentos – como ações, títulos de renda fixa, imóveis, commodities e caixa. Esta distribuição determina, em grande medida, tanto o nível de risco quanto o potencial de retorno do seu portfólio.

Cada classe de ativos possui características próprias de risco e retorno:

  • Ações (Renda Variável): Oferecem maior potencial de crescimento no longo prazo, mas com volatilidade significativa no curto prazo.
  • Títulos (Renda Fixa): Proporcionam fluxos de renda previsíveis e maior preservação de capital, geralmente com retornos mais modestos.
  • Imóveis: Podem proporcionar tanto renda quanto valorização de capital, além de proteção parcial contra inflação, no entanto, apresenta baixa liquidez.
  • Commodities (incluindo metais preciosos): Frequentemente agem como proteção em cenários inflacionários e durante períodos de instabilidade econômica.
  • Investimentos Alternativos: Esta classe refere-se a ativos como participações em empresas, fundos de investimentos em participações, obra de arte, joias, etc. São boas ferramentas de proteção contra inflação e geralmente apresentam baixa correlação com mercado financeiro. No entanto, apresentam baixa liquidez.
  • Caixa e equivalentes: Oferecem liquidez imediata e proteção do capital, mas tendem a perder poder de compra durante períodos inflacionários.

O princípio fundamental por trás da alocação de ativos é que estas diferentes classes não se comportam da mesma forma nos diversos ciclos econômicos. Quando um tipo de investimento está em baixa, outro pode estar se valorizando, criando um efeito de proteção para o portfólio como um todo.

A distribuição ideal entre essas classes depende de diversos fatores individuais, incluindo objetivos financeiros, horizonte de investimento, necessidade de liquidez e, crucialmente, tolerância a risco – tanto emocional quanto financeira.

Evidências Acadêmicas E Dados Da Indústria

A importância da alocação de ativos não é meramente teórica, ela está respaldada por extensas pesquisas acadêmicas.

Um estudo seminal sobre o tema foi conduzido por Brinson, Hood e Beebower em 1986[1] e posteriormente atualizado em 1991[2]. Analisando fundos de pensão ao longo de uma década, os pesquisadores descobriram que:

  • 91,5% da variação dos retornos de um portfólio é explicada pela política de alocação de ativos
  • Apenas 4,6% é atribuída à seleção específica de ações ou títulos
  • 1,8% resulta de tentativas de market timing
  • 2,1% é explicada por outros fatores

Estes resultados foram posteriormente corroborados por diversos estudos independentes, incluindo trabalhos de Ibbotson e Kaplan (2000)[3], que analisaram fundos mútuos e fundos de pensão, confirmando que a alocação de ativos explica aproximadamente 90% da variabilidade dos retornos ao longo do tempo.

É importante ressaltar que estes estudos não sugerem que a alocação de ativos explica 90% do retorno absoluto, mas sim 90% da variação dos retornos entre diferentes portfólios e períodos.

Em termos práticos, isto significa que sua política de alocação, não suas escolhas específicas de ações ou tentativas de prever movimentos de mercado é o fator determinante para seu resultado de longo prazo.

É importante ressaltar que esses estudos, embora amplamente citados e influentes, apresentam algumas limitações metodológicas que merecem consideração. São elas:

– As pesquisas focaram principalmente em fundos institucionais de grande porte, podendo não refletir completamente a realidade de investidores individuais;

– Além disso, existe um debate acadêmico sobre a definição precisa de “política de alocação de ativos”

– Métodos estatísticos utilizados podem superestimar sua importância relativa

– Os resultados podem variar significativamente dependendo do período analisado e dos benchmarks escolhidos.

Embora os estudos apresentem algumas limitações metodológicas, o consenso acadêmico mantém que a alocação de ativos é o principal determinante dos retornos de longo prazo.

O que importa para o investidor é que, independentemente do número preciso, as evidências convergem para o fato de que como você distribui seus recursos entre diferentes classes de ativos tem muito mais impacto no seu sucesso financeiro do que tentar escolher o “melhor” ativo individual ou acertar o momento ideal de compra e venda.

Veja também nosso texto: Antes da Alocação: Como Estruturar um Processo de Investimentos Coerente

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Referências:

[1] BRINSON, Gary P.; HOOD, L. Randolph; BEEBOWER, Gilbert L. Determinants of Portfolio Performance. Financial Analysts Journal, v. 42, n. 4, p. 39-44, jul./ago. 1986.

[2] BRINSON, Gary P.; SINGER, Brian D.; BEEBOWER, Gilbert L. Determinants of Portfolio Performance II: An Update. Financial Analysts Journal, v. 47, n. 3, p. 40-48, mai./jun. 1991.

[3] IBBOTSON, Roger G.; KAPLAN, Paul D. Does Asset Allocation Policy Explain 40, 90, or 100 Percent of Performance? Financial Analysts Journal, v. 56, n. 1, p. 26-33, jan./fev. 2000

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