Por que muitos portfólios brasileiros seguem excessivamente concentrados em ativos locais, mesmo com ampla evidência da importância da diversificação internacional?
Essa é uma pergunta que investidores precisam se fazer. Ao longo do tempo, alocar globalmente não só permitiu acesso a retornos mais elevados em determinadas janelas, como também foi um fator determinante para preservar capital diante de choques locais – econômicos, cambiais ou políticos.
A seguir, exploramos o por que estruturar uma alocação internacional, com base em dados históricos, boas práticas e evidências empíricas.
Diversificação geográfica reduz riscos extremos e gera retornos mais consistentes
O estudo da Bridgewater Associates, uma das maiores gestoras de hedge funds do mundo, é categórico: a diversificação geográfica pode ser a diferença entre preservar e perder patrimônio em crises sistêmicas.
Ao analisar retornos de ações em diversos países desde 1900, observou-se que investidores concentrados em países como Alemanha, Rússia ou Itália enfrentaram perdas irreversíveis em certos períodos.
Já um portfólio com alocação equilibrada entre países não apenas evitou esses colapsos, como teve desempenho próximo ao do melhor país em cada década — sem necessidade de acertar previsões.
“Ao invés de tentar prever quem será o vencedor de cada ciclo, um portfólio globalmente diversificado entrega retornos consistentes ao longo do tempo.” — Bridgewater
Fonte: Geographic Diversification Can Be a Lifesaver, Yet Most Portfolios Are Highly Geographically Concentrated. Bridgewater, 2019.
Baixe o estudo completo clicando aqui.
O gráfico acima ilustra o desempenho acumulado de cinco mercados acionários (EUA, Reino Unido, Alemanha, França e Rússia) ao longo de mais de um século. Cada linha representa o retorno excedente em relação aos ativos caixa no país de origem. A linha preta indica uma carteira com alocação igual entre esses países, rebalanceada anualmente.
Apesar das trajetórias distintas entre os países, a carteira diversificada entrega um retorno médio próximo ao do melhor desempenho individual, mas com volatilidade e desvalorizações significativamente menores. Ou seja, ao suavizar os extremos negativos, o portfólio internacional ganha resiliência e preserva a capacidade de crescimento composto.
Performance histórica valida a alocação internacional para investidores brasileiros
Nos últimos 10 anos, o investidor que manteve exposição ao mercado norte-americano — via índices como o Nasdaq ou S&P 500 — viu seu portfólio crescer a taxas superiores às alternativas locais. Isso se deve tanto à performance dos ativos quanto à valorização cambial do dólar frente ao real.
Fonte: Tutors Consultoria
Esse histórico reforça uma das principais conclusões do estudo da Bridgewater: portfólios internacionalizados tendem a apresentar melhor retorno ajustado ao risco.
A alocação em diferentes regiões do mundo não apenas amplia o universo de oportunidades, como também reduz a correlação entre ativos — o que, na prática, significa menor volatilidade e maior consistência nos resultados ao longo do tempo.
Portanto, ao contrário do senso comum que associa diversificação global apenas a retorno cambial ou exposição a países desenvolvidos, a verdadeira vantagem está na engenharia de risco da carteira: mais equilíbrio, menos dependência de um único país, e maior previsibilidade ao longo dos ciclos.
Por que a Diversificação Internacional é essencial para investidores brasileiros
A diversificação internacional deixou de ser uma escolha opcional para se tornar uma necessidade estratégica. Apesar das evidências históricas sobre os benefícios de alocar recursos globalmente, muitos portfólios brasileiros seguem excessivamente concentrados em ativos locais. Essa postura expõe o investidor a riscos específicos da economia, da política e da moeda nacional — riscos que poderiam ser mitigados com uma alocação geograficamente equilibrada.
Diversificação Internacional também entregou mais retorno na última década
Nos últimos 10 anos, a diversificação internacional se destacou como fator de geração de retorno superior para investidores brasileiros. Exposições ao mercado norte-americano, via índices como Nasdaq e S&P 500, combinaram valorização dos ativos com o ganho cambial do dólar frente ao real — um efeito duplo que impulsionou os portfólios internacionalizados.
Mais do que alocar, é preciso começar certo e construir com método
Para extrair o melhor da diversificação internacional, três pontos devem ser considerados:
- Início correto da estruturação:
É comum ver alocações internacionais feitas de maneira pontual, reativas a eventos como crises econômicas e políticas. O ideal é estruturar desde o início uma arquitetura patrimonial internacional, considerando aspectos como tributação, custos de sucessão e tipo de veículo (fundos, ETFs, contas no exterior etc.).
- Construção ao longo do tempo (Dollar-Cost Averaging):
A consistência da alocação é tão importante quanto o momento de entrada. A prática de investir periodicamente em ativos internacionais suaviza os efeitos da volatilidade e reduz o risco de entrar em picos de preços.
Estratégia de investimento dollar cost averaging que consiste em aplicar valores fixos e periódicos em um ativo ou portfólio, independentemente das condições do mercado. Pode ajudar a reduzir o impacto da volatilidade, comprando mais cotas quando os preços estão baixos e menos quando estão altos.
- Instrumentos adequados para eficiência e simplicidade:
Entre os veículos mais recomendados estão os ETFs do tipo UCITS, que seguem regulações europeias e permitem exposição global com maior transparência e custos operacionais mais baixos. Além disso, por serem domiciliados fora dos EUA, evitam problemas de inventário e sucessão no exterior.
Para entender melhor como funcionam os ETFs UCITS, acesse o artigo da Tutors: Investimentos Internacionais: o que são ETFs UCITS?
Outra estrutura eficiente para famílias com patrimônio relevante é o uso de trusts e veículos offshore, que oferecem vantagens tributárias, proteção patrimonial e planejamento sucessório internacional.
A concentração geográfica ainda é a regra, mas não precisa ser o seu caso
Mesmo em portfólios de alta renda, há um viés persistente de concentração no mercado doméstico — o chamado home bias[1]. O Brasil representa menos de 3% do PIB mundial, mas ocupa frequentemente mais de 90% das alocações de muitos investidores locais.
Com um mundo cada vez mais multipolar, com maior risco de divergência entre regiões (vide China, EUA e Europa com dinâmicas próprias), a diversificação geográfica torna-se mais relevante do que nunca.
Conclusão
Diversificação internacional não é sobre “apostar no exterior”, mas sobre construir um portfólio resiliente, antifrágil, capaz de atravessar ciclos, crises e mudanças estruturais com equilíbrio.
A experiência histórica, os dados de performance e o avanço dos veículos disponíveis tornam essa decisão cada vez mais acessível e estratégica. O investidor que entende isso e começa a agir cedo, com método e planejamento, colhe os frutos da consistência ao longo do tempo.
Quer saber como estruturar sua carteira internacional com eficiência, segurança e inteligência tributária? Fale com um dos especialistas da Tutors.
- [1]Tendência de concentrar investimentos no próprio país, limitando a diversificação global.